SIX O'CLOCK
Eu poderia começar dizendo que o sol do horário de verão britânico entrava coado pelos vitrais da Abadia para pousar solene na tumba da Rainha Mary II. E assim o faço, por mais romanticamente descritivo que seja. O spalla da Orquestra Filarmônica Real repete outra vez a passagem mais difícil do concerto, aquilo definitivamente não fora escrito para amadores.
“Mantenha o violino afastado do sol, pois o calor faz a madeira rachar ou descolar”. O conselho do velho mestre dos tempos de conservatório ia e voltava em sua mente como o hipnótico tema do Adagio. Soa a última nota, em uníssono com o violoncelo de Edwin. Westminster é muda, pode-se ouvir o pousar da mosca entre duas teclas do órgão de tubos. É muda e assustadoramente triste a Abadia àquela hora, que os católicos chamam de Ave Maria.
Suas orelhas eram grandes, demasiado grandes para não serem notadas e odiadas por Anne Elisabeth. Ela jamais se interessaria por um orelhudo de dentes tortos. Turistas e mais turistas, às levas. Estrangeiros que já viram tudo na cidade e aparecem por ali nessa tarde quase noite, para roubar a concentração do ensaio disparando seus flashes, mesmo sendo proibido. Façam o sightseeing bem longe, comam fish and chips, corram afoitos com seus mapas para a roda gigante ou o Palácio de Buckingham, longe da real e absoluta treva que vem vindo, a treva só plenamente compreendida pelos súditos nativos da rainha. Eles são de Massachusetts, Iowa e Connecticut, seguem deixando cascas de amendoim sobre os restos mortais de quem ergueu a Londres mais sublime, posando no sarcófago de Newton como quem tira fotos com o Pateta e o Pato Donald. Dobrem o valor do ingresso, please, quem sabe assim cai pela metade o número dos abutres.
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