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sábado, 15 de janeiro de 2011

INSTANTÂNEOS CONTEMPORÂNEOS


Não faz muito tempo, fotografar custava caro e dava trabalho. Exigia empenho e planejamento. Tinha o filme de celulóide. A revelação do filme. A ampliação da foto. A ocasião tinha que valer o investimento de tempo e dinheiro. Hoje, a câmera na mão não exige necessariamente ideia na cabeça. A foto nada diz, mas pelo custo zero não se espera dela que diga sempre alguma coisa. Se o negativo era o registro eterno, o JPEG não a contento é deletado sem piedade. Fotografemos, pois.

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Olha só essa aqui. Em macro superclose, parecem até dois montes Fuji siameses sem neve. Na realidade são dois formigueiros, um ativo e outro que acabava de ser exterminado com um bule de café fervente entornado pela Paulinha, em mais um costumeiro exercício de sadismo contra o reino animal.

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Nesta outra vemos um copo com a água pela metade deixado em cima da mesa de centro pela minha madrinha, quando de sua visita à nossa casa para parabenizar-me pelo trigésimo sexto ano de Crisma. Reparem no copo a marca de batom, cambiando entre o bordô e o marrom claro, deixado pela tiazinha querida. Resquícios de uma tarde memorável onde, além da água quente da torneira, tivemos a ventura de partilhar um mingau de maisena polvilhado com canela, cuja foto segue na próxima página do slide show.

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Ah, essa é uma das minhas favoritas. Enfim, os cinco dedos do pé esquerdo reunidos. Todos juntinhos em instantâneo para a posteridade! Em sentido horário: o dedão, o que fica ao lado do dedão, o que fica ao lado do que fica ao lado do dedão e na sequência os dois menorzinhos. A pequena marca cor de ferrugem no calcanhar não é micose, e sim um fiapo de meia que se meteu de bicão junto aos “rapazes” na hora do clique. Aquele negócio redondo, que aparece desfocado ao fundo, é o potinho de ração da Flofy.

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Continuando com a série “família reunida”, perfilei os últimos oito tacos que se soltaram do chão da sala. Assim, soltinhos, eles parecem mais descontraídos – quebrando um pouco a rígida simetria que os torna tão iguaizinhos e sem personalidade quando assentados.

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Flagrante da geladeira da casa da Anna Bárbara, em 23-05-07, às 22h31. Da esquerda para a direita: leite de soja em embalagem longa vida, Becel sem sal, pires com asa de frango, meio tablete de fermento. Espremidos na prateleira de baixo: penca de bananas, farofa de bacon e passas, pernil na marinada e 11 Bavárias que, segundo ela, estão lá desde a passagem de ano de 2002.

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Foto “antes e depois”. Antes da sessão diária de esteira e depois do vômito causado pelo esforço aeróbico excessivo, que revolveu as entranhas e de lá desalojou a feijoada completa com creme de abacate consumidos anteontem.

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Na sequência, o vômito propriamente dito, brilhantemente capturado pelas lentes de uma Nikon com zoom óptico 12x. Além de todos os pertences do porco e do abacate envolto por alguns traços de bílis, enxergamos nitidamente ao fundo uma salsinha do então irresistível vinagrete.



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1 Comentários:

  • Marcelo!

    Amei esse texto, porque sempre admirei a arte da fotografia. Aquela arte antiga, onde se calculava grau, ângulo e tudo mais, até mesmo a imagem. Era uma arte que via meu pai fazer, na câmera escura e depois pendurar num arame com o máximo de cuidado para nada manchar. Lembro que tinham três provas. E era uma festa o resultado.

    Tudo bem, que amarelava, dependendo do ácido usado, mas atualmente qualquer criança sabe tirar uma fotografia. Tem até um filme onde um japonês bebê, já nasce com uma câmera nas mãos e fotografa os pais.

    Sei que a tecnologia deve ser sempre aprimorada, mas não esqueço a emoção e o mistério da câmara escura e dos negativos.


    Belíssimo!

    Beijos

    Mirze

    Por Blogger Unknown, às 15 de janeiro de 2011 às 10:51  

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