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sexta-feira, 2 de setembro de 2016

SEM MEIAS VERDADES




Lá se vão mais de quatrocentos e oitenta invernos desde que McElysteen e Richards travaram duro embate pelo reconhecimento da invenção das meias. Embora muitos questionem a legitimidade de direitos autorais tanto de um quanto de outro, afirmando que os primeiros exemplares remontam ao ano 600 a.C. e teriam sido usados por mulheres gregas, o fato é que esses dois ingleses parecem ser os mais sérios candidatos à patente.

É bem verdade que McElysteen jamais contestou a invenção dessa indispensável peça de vestuário como sendo atribuída a Richards; mas sustentava que Richards havia inventado a MEIA, no singular, sendo ele, McElysteen, o inventor das MEIAS, no plural - concebidas para cobrir e proteger ambos os pés. Dessa forma, a Richards caberia MEIA patente, por ser o pai de meia invenção. Já o PAR, conforme atestam os croquis e o primeiro protótipo apresentado a alguns empresários ingleses do ramo têxtil, seria de fato ideia de McElysteen. E foi essa, incontestavelmente, a forma de uso consagrada em todo o mundo - exceção aos sacis e pernetas, que muito bem poderiam se virar a contento com uma meia só. 

Centenas de anos mais tarde, já em meados da década de 80, um cabo-verdiano de nome Imeldo Angelyn entrou na disputa com uma ação judicial de reparação à memória de seu finado tio-avô, argumentando ser dele a concepção da chamada meia-luva. A exemplo da luva comumente utilizada nas mãos, a revolucionária meia envolvia separadamente cada um dos dedos dos pés. Argumentava o defunto inventor que o agasalhamento dedo a dedo favorecia um maior conforto térmico nos dias frios, além de prevenir que micoses presentes no dedão contaminassem também os dedinhos, e vice-versa. Ainda segundo ele, esse aprimoramento trazia à meia a sua forma evolutiva final, cabendo ao avô de Imeldo, portanto, o crédito da invenção em todos os almanaques e enciclopédias a serem impressos doravante. Pelo menos, era isso o que pleiteava. Não se conhece, até o momento, em qual instância de julgamento se encontra o seu pedido. 

Na falta de elementos comprobatórios que encerrem de vez essa discussão, os processos, sentenças e recursos judiciais seguem tramitando por tribunais mundo afora. Ora favorecendo a família de Richards, outras vezes dando ganho de causa aos herdeiros de McAlysteen, e eventualmente admitindo a possibilidade de autoria a nenhum deles. Enquanto assistimos a essa secular queda de braço, a meia vai se transformando em objeto de fetiche. Virou moda, nos últimos anos, a realiação de leilões disputadíssimos para arremate de meias usadas por celebridades do futebol, da Fórmula 1, da política internacional e do mundo artístico. Comenta-se que o par de meias utilizado por Usain Bolt na prova olímpica dos 100 metros rasos será leiloado em breve, no salão de festas do Jockey Club do Rio de Janeiro.



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