O MELHOR DA FESTA
É esperar por ela. Assim o velho ditado, assim Priscila deitada. Olha pela janela grande do quarto e vê um cinza chumbo empurrando no céu o carneiro de nuvens. Não demora e a chuva vai regar as bostas das vacas lá no morro, que gratas pelo frescor retribuirão com cogumelos a quem quiser colher, chapéus de sol que dariam cores e sons insuspeitos à festa de logo mais. Isso se Priscila fosse de se alucinar. Qualquer uma menos ela, aluna de internato, sem chance, nem vinho de missa conhecia. A uma mulher dessas bastaria uma taça de espumante leve para destravar um vagão de cismas e magoas. No caso dela a lucidez já era, a seco, a perda do juízo e o delírio extremo. Estava há meses a 220, trêmula. Mas a festa daria jeito nisso. A festa prometia e ela acreditava.
O que passou não volta por nada e será sempre muito melhor do que o que é. Sua mecha de cabelo adolescente, guardado no porta-jóias, será infinitamente mais sedosa e interessante que esse grisalho que chega dizendo que veio de vez, para o resto da vida. Mas deixa ele vir, nunca será um susto tão grande quanto o daquele dia em que teu pai, Priscila, te pegou fumando no quintal, lembra? Fumando pela curiosidade, não pelo vício ou por achar charmoso. Um cigarro é um corpo estranho no canto da tua boca sem malícia.
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