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sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

BANDIDO NOEL





Entalado em chaminé, velhote obeso é detido à meia-noite do dia 24


Após o constrangedor flagrante e identificando-se apenas como Noel - que não sabemos ainda tratar-se do nome verdadeiro, apelido ou codinome - , o suspeito não portava documento algum, vestia roupas de cetim vermelho e foi imediatamente encaminhado à Terceira Delegacia Seccional da Zona Norte para interrogatório e demais averiguações. O enorme saco que trazia às costas, também em cetim vermelho, comportava uma incalculável variedade de mercadorias, em sua maioria brinquedos, todas elas sem Nota Fiscal. A evidente suspeita de contrabando levou o delegado a acionar a Polícia Federal. Interrogado pela autoridade aduaneira competente, o septuagenário não se defendia das acusações e se limitava a articular, de quando em quando: "É Natal, é Natal... Ho, ho, ho...".

O detetive Lampreia, que costuma assessorar o delegado local nesse tipo de investigação, deduziu que Natal, a capital do Rio Grande do Norte, talvez seja ponto de receptação da muamba.

Somada à suspeita de contrabando, o idoso foi ainda indiciado por invasão de domicílio, sendo o delito testemunhado por centenas de moradores das vizinhanças da casa invadida. Questionado sobre a razão que o motivou a praticar tão reprovável ato, Noel respondeu: "É o nascimento de Jesus".  Foi quando o Cabo Jonas comentou com o detetive Lampreia lembrar-se de um meliante, que há oito anos fora detido e fichado na mesma delegacia sob acusação de latrocínio, cujo nome era Deoclécio Nascimento de Jesus. Estabelecia-se assim mais uma conexão suspeita, que complicaria ainda mais a situação do barbudo e também envolveria Deoclécio como provável cúmplice ou co-autor da façanha.

O interrogatório, ou a tentativa de, prosseguiu madrugada adentro e ao longo de todo o dia 25, mas o misterioso caso permanece inconclusivo até o momento. O que mais intriga os investigadores é o fato de que, fosse Noel realmente um bandido, não vestiria traje tão berrante e espalhafatoso, pois obviamente sua ideia seria a de não chamar a atenção.

Nesse meio tempo, o Cabo Jonas levantou a hipótese de formação de quadrilha entre Nascimento de Jesus, Noel e o dono da residência, que até então mantinha-se a salvo de maiores suspeitas. Argumentou o Cabo que o envolvimento do morador era muito provável, pois era em sua casa que Noel tentava adentrar com o contrabando. E que se, ao invés de entrando, Noel estivesse saindo com as mercadorias pela chaminé (o que a princípio contraria a lei da gravidade), teríamos o dono da casa indiciado como receptador de produtos sem procedência, e o velhote Noel acusado de ladrão de muambeiro.

Aos munícipes que tiverem alguma pista ou informação que ajude a elucidar o caso, pedimos a gentileza de encaminhá-las, ainda que anonimamente, às nossas autoridades.



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Marcelo Pirajá Sguassábia é redator publicitário e colunista em diversas publicações impressas e eletrônicas.
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