ME DÁ UM AUTÓGRAFO?
Andy Warhol
O maior colecionador de autógrafos da cidade de Antuérpia
vivia, estranhamente para alguém de quem se esperaria hábitos de paparazzo,
como um ermitão em sua casa de 4 cômodos - um deles reservado exclusivamente ao
seu imenso acervo. Ao todo eram mais de cinco mil. Não autógrafos, mas
categorias de. E estas eram cada vez mais específicas. Cantores, por exemplo,
eram separados em canhotos e destros, loiros e morenos, acima e abaixo de 1,70 m , com ou sem sinais
evidentes de anomalias anatômicas, circuncidados ou não.
Uma das categorias mais bizarras era a de "Obstetras de
Celebridades", onde se elencavam o autógrafo do médico responsável pelo
parto de Idi Amin Dada, o ditador facínora de Uganda, e o da parteira de James
Dean, uma ruiva nascida no Estado de Massachusetts. Dizia ele que, na
impossibilidade de conseguir o autógrafo de grandes personalidades, não menos
significativo seria obter a assinatura daqueles que trouxeram tais figuras ao
mundo, para o bem ou para o mal.
O fato de ser natural de Antuérpia, referência mundial na
lapidação de diamantes, rendeu a ele o autógrafo do sobrinho-neto de Antoine
Salisantè, assistente do lapidador que deu a forma final a um dos mais belos
topázios de Elizabeth Taylor. A gema pode ser admirada em belíssimo colorido
cinemascope nos vinte minutos finais do filme Cleópatra, estrelado pela atriz e
grande sucesso do ano de 1963.
O terreno religioso reserva alguns dos mais preciosos
exemplares da coleção. Como o de uma mulher, Genoveva, descendente da
quadragésima nona geração de São Dimas - também conhecido como "O bom
ladrão", aquele criminoso crucificado ao lado de Jesus Cristo e que se
converteu minutos antes do suspiro final. Outro autógrafo raríssimo é o do
responsável pela emissão do atestado de óbito de Albino Luciani, o Papa João
Paulo I, morto após 33 dias de pontificado em circunstâncias mais do que
suspeitas.
Destaque especial merecem as categorias “Maquinistas
de Trem” (223 autógrafos), “Mendigos” (397) e “Gandulas” – setor da coleção subdividido
em “Gandulas de jogos terminados em empate”, “Gandulas de jogos terminados em
cobranças de pênaltis” e “Gandulas de jogos televisionados pela RTP – Rádio e
Televisão de Portugal”.
Sabe-se que o acervo ganhou importante incremento quando de
uma exposição de Andy Warhol em Nova York, no início dos anos 70. Na ocasião, nosso
incansável colecionador matou dezenas de notáveis coelhos com uma cajadada só,
ao conseguir roubar o livro de visitas do evento. Nele constavam nomes de
primeira grandeza, como John Lennon, Robert de Niro, Mario Puzo, Ted Turner e
Muhammad Ali. As páginas com as assinaturas célebres foram cuidadosamente
retalhadas com estilete; uma vez subtraídos todos os nomes que interessavam, e
mais parecendo um queijo suíço, o livro foi devolvido aos organizadores da
exposição.
No momento, dedica-se o nosso herói a buscar os autógrafos
de James Watt, Alessandro Volta e André-Marie Ampère, vultos que emprestaram
seus nomes ao universo da eletricidade, cunhando respectivamente os tão utilizados
termos Watt, Volt e Ampère.
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Marcelo Pirajá Sguassábia é
redator publicitário e colunista em diversas publicações impressas e
eletrônicas.
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