ELE DELEGOU
Que não se conteste a
infalibilidade do Arquiteto Supremo: na sua concepção original, a obra era
realmente perfeita, e vinda Dele não poderia ser diferente. Mas, pelo que a
ciência moderna vem apurando, Ele foi obrigado a delegar. Até porque Ele tinha
- e sempre teve - mais o que fazer. E perder 7 dias com a criação dessa
poeirinha cósmica que é o nosso planeta seria muito desperdício, mesmo o Autor
sendo eterno.
É claro que, passando a bola a terceiros e tendo apenas uma semana de
prazo para entrega das chaves, não ia dar pra ficar perfeito. Mundo
perfeitinho, sem retoques, precisa de pelo menos uns 20 dias pra ficar pronto.
Daí pra mais. Mal comparando com o falível plano terreno, é como
muito arquiteto que tem por aí: inventa as coisas, larga na mão de gente mais
ou menos e depois não aparece para acompanhar a obra. Aí, dá nisso: seres
humanos com duas orelhas em vez de três, um nariz só no lugar dos quatro
regulamentares, pescoços com torcicolo, coração que falha, artéria que entope fácil,
chulé, hérnia de disco…
Do ponto de vista geológico, depois de pronto, parecia até que estava
tudo em ordem no mundo. Mas não deu 4 bilhões de anos e já começaram a pipocar
os problemas. Por exemplo, a porção de terra que existe no planeta. No projeto,
era pra ser um bloco só - inteiriço, liso, bonitão. Na pressa, o barro desandou
e depois de seco acabou rachando e ficou do jeito que é hoje, esses imensos
pedaços de chão com água passando no meio, que a humanidade acabou organizando
na forma de continentes e oceanos. Em seguida vieram as rachaduras, aparecendo
pra tudo quanto era canto. O pessoal que mora no mundo chama de terremoto. Se
acrescentassem um pouquinho mais de argila e rochas firmes na mistura, talvez
evitassem esse problema. Agora é tarde pra reclamar, porque garantia de
construção é de apenas 5 anos, aqui e em qualquer outro ponto do Universo.
Matéria-prima de segunda parece ter sido a causa das estrelas cadentes,
que na verdade não foram concebidas para cair, bem como dos barulhentos gansos –
que se dependesse do Criador seriam tão mudos quanto os cupins.
Nuvem não era para
ter, o céu foi criado para ficar sempre aberto e azulzinho. Porém, para que não
precisasse chover nunca, o sol tinha que ser colocado num ponto muito mais
distante, a fim de que o excesso de calor não interferisse no equilíbrio
biológico. Sempre esbaforidos e correndo contra o relógio, os empreiteiros
instalaram o astro-rei onde deu, sem atinar com as consequências. Resultado:
derretimentos polares, desertificação, tsunamis, efeito estufa e um sem número
de outras anomalias. A lua até que ficou no lugar certo, embora não tenha lá
muita serventia. Consta que o projeto inicial previa três outras luas, formando
uma espécie de colar satelital ao redor do globo. Hoje se sabe que a ausência
do adorno se deu por desvio de material, que acabou indo pra outra obra de lua
em andamento, no planeta Júpiter. Que aliás tem 17 luas oficialmente
reconhecidas, todas aparentemente inúteis.
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Reservados
Marcelo Pirajá Sguassábia é
redator publicitário e colunista em diversas publicações impressas e
eletrônicas.
Blog:
Email: msguassabia@yahoo.com.br
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