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sábado, 17 de julho de 2010

ALTAMENTE MAIS OU MENOS


COMO É QUE O SENHOR RESUME A SUA TEORIA?
É simples: a felicidade está na mediocridade – entendendo-se mediocridade como patamar médio, não como algo de qualidade sofrível. O ideal é sempre a média, é nela que residem o equilíbrio e a harmonia. Para aprovar ou reprovar um aluno, não tira-se a média de suas notas? E as fileiras do meio, não são as mais disputadas no cinema? Voltando à comparação com o universo escolar: o chatinho de óculos da primeira carteira, que uns chamam de cheira-bunda e outros de lustra-maçã, é um nerd insuportável. O da turma do fundão coloca tachinha na cadeira do professor. E ambos são repulsivos.

EXPLIQUE MELHOR.
Vou dar um exemplo: imagine uma maratona ou uma corrida de Fórmula 1. Nada como correr e terminar a prova no pelotão intermediário – nem na tropa de elite, nem no lodo dos retardatários. Os que estão no imenso cordão mediano correm numa boa, porque uma corrida precisa dos que estão no meio para que existam os que acabam nas pontas. É o pessoal que faz número, são os menos cobrados e ao mesmo tempo absolutamente indispensáveis.

SIM, MAS...
Os últimos recebem o desprezo e a chacota. Os primeiros, a inveja e a responsabilidade por um desempenho cada vez melhor. Um expoente em qualquer coisa é tão discriminado quanto um retardado naquela mesma coisa. Lembre-se, meu caro: o filé do peixe é aquela parte que fica entre a cabeça e o rabo.

SÓ QUE É A CABEÇA QUE COMANDA O PEIXE PARA BUSCAR ALIMENTO, E O RABO É QUEM O IMPULSIONA PARA CHEGAR ATÉ ELE.
Sim, e para quê? Para nutrir o resto do corpo e nos legar o seu filé, aquela parte que fica bem no meio... xeque-mate, senhor repórter!

ESTA É UMA FORMA UM TANTO QUANTO CONFORMISTA DE ENCARAR A VIDA, NÃO ACHA?
Pode ser para você, um sujeito visivelmente contaminado pela competitividade capitalista. Que segura trêmulo este microfone na minha cara, olhando a toda hora para o relógio e preocupado em ser o primeiro a levar esta minha entrevista às bancas amanhã. Não é isso mesmo?

SE EU NÃO FIZER ISSO, SOU MANDADO EMBORA. MAS, CONTINUANDO: EM DECLARAÇÕES RECENTES, O SENHOR AFIRMA QUE SUA TEORIA TAMBÉM SE APLICA ÀS RELAÇÕES FAMILIARES.
Evidente. O primeiro filho é sempre vítima de uma criação cheia de cuidados excessivos, de bajulações desnecessárias da parte dos pais e dos avós, o que acaba por estragar o indivíduo e torná-lo um parasita sem vontade própria, com traumas que farão as delícias e o sustento dos analistas. Já com o caçula, via de regra ocorre o oposto: a família já está tão de saco cheio de tantos filhos que cria o coitado de qualquer jeito. A vantagem fica com os filhos do meio, que herdam as roupas e brinquedos do primogênito e deixam a sucata para o mais novo da prole. Além disso, eles ficam livres da vigilância ostensiva dos pais – que estão mais ocupados em limpar o cocô do pequenininho e ficar procurando droga na mochila do mais velho. Pode reparar, é sempre assim.

FINALIZANDO, O QUE ACHOU DESSA ENTREVISTA?
Mais ou menos. Você não me entupiu de perguntas bestas, nem eu me alonguei muito nas respostas. E estando mais ou menos, para mim está ótimo.

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2 Comentários:

  • Marcelo!

    Altamente Mais ou Menos, é o canto por excelência dos grandes pensadores.

    É tão claro e óbvio, que difícil me imaginar num topo.

    Tive o privilégio de ser exatamente a filha do meio, que todos pensam merecer o desprezo. Absolutamente! Além de seguir as regras ditadas por meus pais, ouvia o raciocínio e as atitudes dos meus irmãos mais velhos, mas podia ter um espaço amplo para raciocinar e ser eu mesma, sem interferências de terceiros.

    No esporte, uma vez primeiro, será sempre cobrado. Imprensa, câmeras, e todo esse arsenal o impedirão a partir deste momento de chegar ao pódio que não seja entre os três primeiros. Perderá a privacidade, será um ser humano público, passível de críticas a qualquer fala, mesmo no comportamento social.

    Os últimos, terão o incentivo dos mais velhos para no mínimo chegarem ao meio. Se usarem a inteligência, ali permanecerão. Terão a oportunidade de escolher ser o primeiro, mas já terão observado causa e consequencia.
    Vivem melhor, são menos cobrados.

    Veja os hotéis: Uma vez cinco estrelas, terão que manter esse nível sob o infortúnio da opinião pública.

    Até mesmo o exemplo citado, "o peixe", a cabeça e a cauda é que darão o sumo mais nutritivo para produzir o que é consumido; Com este suco depois de fervido, e formando um molho, até o filé será regado.

    Portanto. excelente raciocínio!

    Parabéns, Marcelo!

    Excelente texto - entrevista.

    Beijos

    Mirze

    Por Blogger Unknown, às 17 de julho de 2010 às 07:29  

  • Marcelo!

    O número 5 como imagem, lembrou-me o penta. O brasil perseguindo o heza.

    Voltei para parabenizá-lo pela bela escolha. Dar oportunidades aos últimos, é uma escolha, não que tenha sido proposital, mas veja como ficou o técnico de um time sempre acostumado a ser o primeiro.

    Claro que todos torcemos para mais um. Digo todos, menos eu.

    Quanto mais no ápice, (e já que temos essa vantagem enorme sobre os outros times),achei bom, neste campeonato não sermos os mais visados.

    Abraços

    Mirze

    Por Blogger Unknown, às 17 de julho de 2010 às 07:49  

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