ÓVULOS PENOSOS. ESTÁ SERVIDO?
wikimedia commons
Os veganos estão
certos. Estão certíssimos. Não só pela determinação de não ingerir cadáveres de
animais, mas também por, coerentemente, se recusarem a consumir os derivados
deles. Especialmente o ovo, o mais nojento e abominável desses subprodutos.
Que não se conteste
o valor nutricional do dito cujo, o que o coloca entre os alimentos mais
completos que existem. Sem falar do sabor, que quando frito é, de fato, uma
iguaria. Basta ele e um pouco de arroz branco, e teremos um dos mais
estonteantes manjares já concebidos pela espécie humana.
O problema é quando
você se põe a pensar na natureza daquilo que está comendo. E aí vem à mente
alguns fatos e imagens não propriamente abridores de apetite – como o órgão excretor
do produto, a cloaca, e os não raros ovos com suas cascas saindo de fábrica
manchadas de sangue. Uma vez coletados, higienizados e enfileiradinhos em
suas assépticas embalagens de supermercado, não revelam à dona de casa a suja e
dura crueza de sua gestação. Reflita, analise, leve o assunto ao debate
doméstico e em sã consciência não admitirá mais um único ovo em seu cardápio -
nem mesmo aquela pinceladinha discreta em cima da empada.
Ovo é óvulo, o maior
do reino animal. Gosmento e quase sempre mal-cheiroso, quando in natura,
permanece microscopicamente alojado no ovário da galinha desde o nascimento do
bicho, esperando na fila pra ser posto pra fora.
Sim, a aparente
delícia é de revirar o estômago. Inverta a situação e compreenderá um pouco
melhor o absurdo: imagine uma galinha ciscando um absorvente feminino. Usado,
evidentemente. Não seria exatamente esse o comportamento dos comedores de ovos?
Considerando-se a ínfima inteligência da galinha, é até admissível o
despropósito de vê-la degustando um Carefree
de procedência ignorada. Mas e nós, animais racionais, que justificativa podemos
dar ao ato bárbaro de sentar à mesa e mandar um zoiudão para o bucho?
Só que é preciso
determinação para levar a abstinência adiante: nove entre dez receitas doces ou
salgadas levam ovos - inteiros ou só as gemas. Por que continuam assim tão
indispensáveis, esses pintinhos que não vingaram, nas caçarolas, frigideiras e
batedeiras de bolo? Como é que a tecnologia ainda não conseguiu providenciar um
substituto sintético à altura, com as mesmas propriedades de liga, que dão
ponto às receitas das tias velhas? Ou pelo menos encontrando uma alternativa no
reino vegetal, capaz de acabar de vez com a primazia gineco-galinácea no mundo
maravilhoso da culinária.
Por outro lado, se
não fossem aproveitados pelo homem em sua dieta, seria necessário inventar o
que fazer com eles, já que uma única galinha põe em média 265 ovos ao ano. Com
expectativa de vida produtiva de dois anos em ambiente de granja, vamos
arredondar para 500 peças o portfólio penoso ao longo da existência. Isso a
galinha confinada, pois a de fundo de quintal chega fácil aos 15 anos. Com a
palavra, os veganos...
©
Direitos
Reservados
Marcelo Pirajá Sguassábia é
redator publicitário e colunista em diversas publicações impressas e
eletrônicas.
Blog:
Blog Portfólio:
Email: msguassabia@yahoo.com.br
0 Comentários:
Postar um comentário
<< Home