ANA LÓGICA
Logicamente,
Ana levanta-se naquele dia do mesmo jeito que nos outros todos,
maldizendo o cuco de madeira capenga que lá da sala diz que é
tempo, que a vida urge e exige Ana de pé e de prontidão,
a postos para matar o leão da vez.
De frente pra urna eletrônica, saca do sutiã a colinha que trouxe de casa com os nomes dos cabras menos ruins. Acha que aquilo é voto, tenta encontrar uma fenda na geringonça para enfiar o papel.
- Como é que é isso, seu mesário?
Feito o dever cívico, passa pela padaria em frente à igreja, com suas duas televisões de cachorro e dezenas de frangos girando. Lembra do dezembro à porta e seus piscas nos pinheiros, Ana dos gorros tricotados de Noel, logo só se vê e só se fala nessas festas de exageros, nesses tempos de advento onde o que menos importa é o menino redentor desse mundo de pecados.
De frente pra urna eletrônica, saca do sutiã a colinha que trouxe de casa com os nomes dos cabras menos ruins. Acha que aquilo é voto, tenta encontrar uma fenda na geringonça para enfiar o papel.
- Como é que é isso, seu mesário?
Feito o dever cívico, passa pela padaria em frente à igreja, com suas duas televisões de cachorro e dezenas de frangos girando. Lembra do dezembro à porta e seus piscas nos pinheiros, Ana dos gorros tricotados de Noel, logo só se vê e só se fala nessas festas de exageros, nesses tempos de advento onde o que menos importa é o menino redentor desse mundo de pecados.
As
cartas atrasadas a remeter, as tampas de margarina a envelopar e
enviar ao sorteio com a pergunta respondida, as agulhas de costura
agora quase tão raras quanto as de vitrola, os lençóis
no quarador, o necessário acato aos filhos que Deus manda
(todos com a mecha de cabelinho guardada na gaveta da penteadeira).
Ana e a lógica das palavras cruzadas na sala de espera e no
aguardo do tempo de tintura no cabelo. Vai treinando, Ana, a sua
menina mais velha nas prendas do lar, leva ela com você ao
açougue e revela passo a passo o segredo do sucesso do seu
lendário picadinho, o melhor do quarteirão - a começar
pela alcatra moída duas vezes, sem um tiquinho de gordura, à
moda da velha vó.
Acontecesse o que fosse, ela continuaria desse jeito – Ana de células, fluidos, anáguas, aquário de peixes na sala e fichas de orelhão no porta-níqueis. Tão analógica quanto o moinho do homem da garapa, a agenda da Tilibra e a fita cassete. Aquela que ainda pensa e vai morrer cismando que boleto sem autenticação mecânica não é boleto pago. Que pendura chumaço de bombril na antena da TV de tubo catódico um pouco antes da novela das seis, enquanto mexe o doce da vida amarga.
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