HOLOCAUSTO GERIÁTRICO
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O inevitável bate à porta: o efeito INSS chega aos fundos
privados de previdência e pensão. E é preciso deixar claro que o nosso não é
exceção à regra.
Caso não ocorra uma mortandade maciça de beneficiários em
curtíssimo prazo, o sistema entra em colapso. A lógica é aritmeticamente
implacável: os recursos da base contributiva não chegam a cobrir um terço dos
benefícios pagos, e isso inviabiliza qualquer mecanismo previdenciário. Se
fizéssemos parte de órgão público, tudo bem. Na falta de dinheiro, o governo –
municipal, estadual ou federal – viria para acudir o rombo, logo tampado com
novas alíquotas nas tabelas de impostos e outras manobras emergenciais.
Não é esse o nosso caso, e temos que nos virar do jeito que
pudermos para que o aumento da expectativa de vida não leve o nosso fundo de
previdência prematuramente à morte.
Algumas alternativas se mostram bastante promissoras. Sob o
pretexto de transformar os “pés-na-cova” em “geração saúde”, podemos expor os
velhinhos a riscos consideráveis de irem dessa para melhor. Se de cada dez
tentativas, pelo menos duas forem convertidas em óbito, ganharíamos uma
sobrevida de aproximadamente seis meses para que possamos planejar com mais
calma novos e bem-sucedidos massacres geriátricos.
A esse esforço mobilizador temos que acrescentar toda a
nossa criatividade. É preciso mexer com a vaidade dos velhotes, com argumentos
do tipo: “mostre para o seu parceiro de damas que o seu negócio é trilha” (não
aquela de tabuleiro, mas a de lama, bichos peçonhentos e caminhos radicais, cheios
de buracos e perigos). Já para as meninas beirando os noventa, uma boa
estratégia seria uma campanha com o mote “troque o tricô pela tatoo”, na qual
milhares de lotes de agulhas infectadas promoveriam o saneamento das nossas
contas – se é que entendem o que quero dizer.
Thomas Malthus pregava o controle da natalidade como forma
de salvar o mundo da escassez de recursos, mas a redenção de fato está no
descontrole da mortalidade. É triste, mas é real. Competições de rapel com
mosquetões defeituosos, ônibus de turismo com freios sabotados, teleféricos com
cabos rompidos, maioneses com salmonela servidas em bailões da terceira idade são
algumas das muitas iniciativas que de imediato devem ser implementadas.
Entretanto, é preciso tomar cuidado com extermínios de
grandes proporções. A ocorrência de vários deles simultaneamente pode chamar a
atenção da imprensa ou alertar os órgãos reguladores do setor securitário, o
que certamente nos trará sérios problemas na esfera jurídica. Precisamos
agendar as tragédias região por região, de tal maneira que, perante a opinião pública,
a estratégia seja entendida como fatalidade.
Feliz 2013
a todos!
© Direitos Reservados
Marcelo Pirajá Sguassábia é
redator publicitário e colunista em diversas publicações impressas e
eletrônicas.
Blog:
Email: msguassabia@yahoo.com.br
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