MOMENTO DO TEMPO
- Ouvi falar que escalaram o pessoal do horóscopo pra cobrir
as férias da turma da previsão do tempo.
- É verdade. Os caras que redigem o horóscopo pra peixes,
áries e touro pegam a previsão da região sul. Quem faz leão, sagitário e
capricórnio fica com a região centro-oeste. E assim por diante. Daqui a pouco
vão passar o comunicado oficial.
- Mas vai sobrecarregar os caras. E hora extra que é bom,
nada. O Financeiro não libera. Por mais que seja divertido ficar inventando o
futuro dos outros e o tempo que vai fazer, o trabalho é dobrado. Só se a gente
pegar uns foquinhas, pra um freelance não remunerado.
- Não precisa. A equipe do horóscopo é boa de imaginação.
Eles estão costumados a se virar com 12 signos, 5 regiões não vão fazer
diferença. E ninguém tem que ficar preocupado caso acabe chovendo ao invés de
fazer sol. Se o CPTEC/INPE, a Somar Meteorologia, o INMET, o Cepagri, o
Climatempo e o escambau, com todos aqueles satélites erram sem parar, o máximo
que pode acontecer é a gente acertar uma vez ou outra.
- Espera aí que eu tive uma ideia mais inteligente.
Considerando que eles erram todas, e ultimamente tem sido todas mesmo, o
negócio é a gente pegar primeiro o boletim deles e prever sempre o oposto. A
nossa chance de acertar será altíssima. Por esse método de inversão, eu diria
que é de quase 100%.
- Boa! E quanto mais a gente acertar, mais pessoas vão
passar a ouvir o nosso programa, mais audiência a gente vai ter...
- E mais anúncios vão pingar.
- Pingar, não. Sem trocadilho, vai chover publicidade no
"Momento do Tempo".
- De tanto errar, nos últimos meses os institutos oficiais
têm sido inespecíficos. Podem reparar. Falam em chuvas isoladas variando de
intensidade "em grande parte do país", camadas de nebulosidade se
formando lentamente, frente fria das Galápagos que pode ser que chegue por aqui
entre quinta e sábado da semana que vem, máxima variando entre 14 e 39 graus
sei lá onde, coisas assim, que não tem como errar.
- Então, quando a previsão for inespecífica, a gente também
fica em cima do muro. Zona de conforto, sem instabilidades, entende?
- É, faz sentido. Acho que vale mais a pena a gente implementar
essa estratégia da inversão do que botar o povo da redação pra ficar inventando
previsões sem pé nem cabeça. E, além de tudo, não dá trabalho. Inverteu, tá
pronto. É só botar no ar.
- Só que a Rádio corre o risco dos institutos de
meteorologia começarem a acertar. E aí, como ficamos?
- Acho que desse susto a gente não morre. Mas, se acontecer
isso, vamos para o inespecífico. Até eles começarem a errar de novo, então
voltamos para a estratégia de inverter as coisas. Simples e seguro. Se der tudo
certo, periga até a nossa Rádio virar referência.
- Já pensou? Um monte de outras emissoras indo na cola do
que a gente falar, sendo que o que a gente disser será uma fraude, já que
divulgaremos o contrário da previsão científica... Vixe Maria...
- É o que se pode chamar de rigor jornalístico.
- Ô.
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