ARREMESSO DE ANÃO
Foto: http://www.vice.com/pt_br/read/uma-introducao-ao-arremesso-de-anoes
Tudo
bem que é humilhante, mas é bem pago. E por pagarem
bem, fica mais fácil você aceitar e se acostumar com a
coisa. É estranho, nos primeiros tempos, você permitir
que qualquer marmanjo te pegue pelos fundilhos e te arremesse o mais
longe que puder como uma bola de boliche (para quem não sabe,
o objetivo do jogo é lançar o anão o mais
distante possível da linha de arremesso, numa disputa que
envolve dois ou mais participantes).
Além
do desconforto, há sempre um certo grau de risco envolvido.
Teve um dia que fui parar no pronto-socorro, por conta de um sujeito
que, ao invés de me arremessar pra frente, me jogou pro alto.
Depois de voar a uns cinco metros de altura, acabei caindo fora do
colchão de amortecimento e fraturei duas vértebras. É
doído, admito, e aterrissar de mau jeito faz parte do negócio.
Porém, quanto à grana, não tenho do que
reclamar.
Em
algumas regiões surgiram variantes da prática, como o
arremesso em cesta de basquete. O duro, nessa modalidade, é
quando a gente fica girando no aro até ser encestado. Você
cai zuretinha no chão, e antes que possa recobrar os sentidos
já tem outro globetrotter te encestando de novo. Pior ainda é
se resolvem arriscar um arremesso de 3 pontos e erram. Aí é
punk, porque ou você despenca no chão da quadra antes de
chegar à cesta ou dá aquela cacetada na tabela. Uma vez
a porrada foi tão forte que espatifei o vidro. E quem ganhou 3
pontos fui eu - na testa.
Conforme
as disputas vão acontecendo e conquistando espaço na
mídia, a prática vai ganhando cada vez mais adeptos.
Quando é campeonato mundial, são necessários
muitos anões para arremessar, e todos tem que estar exatamente
com o mesmo peso, para a disputa ficar equilibrada. Antes de começar
a prova, alguns anões são postos pra vomitar ou
esvaziar a bexiga, enquanto outros são forçados a
engolir quantidades industriais de leitoa assada, cupim, boi no
rolete e outros tira-gostos frugais. O juiz da prova fica enfiando
comida na nossa goela e botando a gente na balança, até
atingirmos o peso certo. Depois já começa a prova, não
dão nem dez minutos pra fazer a digestão. É
desumano, mas regiamente remunerado.
Outro
atrativo da profissão é que ela acaba te abrindo um
extenso network, o que inclui novas oportunidades de business. Um bom
exemplo é a Dwarfs Throw, uma rede de franquias de casas
noturnas especializadas em arremessos de anões, com matriz na
Austrália. Embora não estivesse na qualidade de
franqueado, e sim de anão arremessável, para mim foram
quatro anos de realizações, amizades, gargalhadas... e
hematomas, evidentemente. Mas valeu muito a pena: ganhava o mesmo que
um senador em Brasília, incluindo as verbas de gabinete. O
dono da franquia, um “armário” de 2,15m, já era meu
parceiro de outros tempos, quando eu e ele nos apresentávamos
em um circo mambembe. Éramos uma dupla: o maior anão do
mundo (ele) e o menor gigante do universo (eu).
Antes
disso, trabalhei por oito intermináveis meses como roto-rooter
humano em tubulações de esgoto de Kansas City, numa
rotina um tanto quanto desgastante, insalubre e mal paga. Mas tudo
bem: temos que passar pelo purgatório para chegar ao paraíso.
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