DA SÉRIE PARANOIAS PANDÊMICAS - 1
De
que adianta divulgar a verdade, nua e crua, para o mundo todo? Só
iria causar pânico. Surtos de desespero coletivo. Saques e suicídios
em massa. Síncopes cardíacas fulminantes e derrames
derramadíssimos.
Senhores,
o vírus não está tão somente no espirro, na tosse, nas maçanetas,
nos corrimões, nas botoeiras de elevador, nas válvulas hidra de
mictórios públicos ou nos bicos das gaitas de fole. Isso aí é
conversinha mole pra boi europeu, americano, asiático, africano e
neozelandês dormir. Está é no ar mesmo, a uma nano-distância de
nossas fuças. Não nos iludamos.
Mas
também não é o caso de abandonar este texto, em desabalada
carreira, para cortar os pulsos.
Abdo
Zalamnej Al Faiath, primogênito de um dos mais afamados
confeccionadores de ternos prêt-à-porter do Cairo e descendente de
nobre linhagem árabe, é guia turístico de um destes sightseeings
mequetrefes pelas pirâmides de Gizé. Estava ele no sábado último,
a digerir os quatorze pães ázimos com homus tahine que tinha
mandado para o bucho, puxando uma palha entre uma leva de pacotes
turísticos cancelados e outra, quando esbarrou, ao espreguiçar-se,
em um pergaminho enterrado nas escaldantes areias egípcias.
"Vocês,
do vigésimo primeiro século AD, ouçam o conselho: uma puxada de ar
mais forte e pronto - já elvis, como diria o mongoloide Gengis Khan.
Evitemos maiores delongas e considerações, vocês sabem bem do que
estou falando. Na qualidade de profeta, posso adivinhar perfeitamente
a época em que este pergaminho será encontrado e o drama que a
humanidade estará vivendo.
A
redenção não virá de vacina alguma, seja ela da China, do Reino
Unido ou do Butantã. Nem tampouco da imunidade de rebanho ou do
isolamento (vertical, horizontal, de esguelha e de viés), muito
menos de benzimentos, simpatias, ebós de encruzilhada, vermífugos e
garrafadas de mercadão. Virá, isto sim, de algo que daqui eu por
enquanto não adivinho, mas que torço para que vocês, aí, não
demorem a saber."
Esta
é uma obra de ficção.
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