LIVRO DO ANO
Se você tem
menos de 50, aceite meu conselho: escolha outro texto para ler, não
se prenda por aqui. Mesmo porque não irá entender patavina. Sendo
que "patavina", provavelmente, você também não sabe o
que é...
Barsa, a
versão tupiniquim da tradicionalíssima Encyclopaedia Britannica,
era o copy/paste da galerinha fã do Vigilante Rodoviário. Os 18
volumes vermelhos enfileirados na estante eram tão manjados nas
salas de visita da classe média dos anos 60 quanto os buffets com
pés de palito, os puffs e os pianos.
A primeira
edição brasileira saiu em 1964, e esgotou em 8 meses. Era a
redenção da molecada nos trabalhos escolares, dispensando os
estudantes mais abastados da ida à biblioteca pública.
Aí o tempo
passou, a internet tomou conta e, na virada do milênio, escorraçou
de vez a enciclopédia do living, certo?
Coisíssima
nenhuma. Acredite ou não, a Barsa brasileira - em papel!!!! -
continua firme e forte no mercado, a despeito da versão online já
disponível há bastante tempo (custa hoje em torno de R$300 e o
acesso é livre por um ano).
Com Google,
Wikipedia, portais de conteúdos segmentados e um basculante de
informação nova despejada na rede a cada segundo, a tonelada
escarlate resiste bravamente. Há quem curta a elegância das
lombadas, o manuseio sem pressa, o cheiro das páginas.
Até aí,
nada de mais. O problema é que qualquer enciclopédia já começa a
caducar antes mesmo de acabar de ser impressa. Daí terem inventado o
chamado "Livro do Ano", que é um baita de um catatau
reunindo o que aconteceu de novo no ano seguinte à compra da
enciclopédia. A intenção era complementar a obra com o passar do
tempo, e unir ao útil o agradável de vender um livro a mais, todos
os anos, ao feliz proprietário - que ficava refém vitalício das
atualizações. Lembro que meus pais chegaram a comprar pelo menos
uns 20.
Agora,
imagine só: bastam 18 anos para que a fileira dos filhotes escorados
à mãe-Barsa passe a ser maior que ela. Se os livros do ano
continuam sendo publicados até hoje - e esta informação eu não
tenho - já terão sido impressos até o momento 55 apêndices.
Literalmente, uma emenda bem maior que o soneto!
Caso
venha a ser editado, o livro do ano de 2020 deverá ter pelo menos um
metro de lombada, para dar conta de registrar a merda toda causada
pela pandemia. Mas pode ser, por outro lado, mais fino do que um
gibi. Já que, na prática, ele não aconteceu.
Esta é uma
obra de ficção.
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