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segunda-feira, 10 de agosto de 2020

ON-MÍCIO, E-LEIÇÕES

 

- Que desafio, meus caros. Como é que a gente vai fazer pra arrebanhar o povo dessa vez?



- Vai ser um pega-pra-capar, e não acredito que algum candidato se dê maravilhosamente bem. Sente o drama: a gente anuncia uma live, tal dia e tal hora. Vêm os outros e canibalizam, marcam no mesmo horário e no mesmo dia, só pra jogar caca no ventilador.



- Mas aí perde todo mundo, já que dilui a audiência.



- Então, mas ganha quem fizer impulsionamento, link patrocinado, mídia programática e por aí vai. Vale a regra do off-line, quem tem mais verba leva vantagem. Nada muda esta verdade, fio. Desde que o mundo é mundo.



- Ou ganha quem promover o showmício mais arrasador. Figurinha carimbada, sertanejo de prestígio...



- De que showmício você tá falando, esqueceu da pandemia? Junta-povo dá cadeia.



- Então vai na base da live também, fazer o quê?



- Isso não vai acabar bem, nada é igual ao cecê da multidão, aquela coisa de levantar a galera na oratória, inflamar a plebe!!! E o negócio do show só funciona porque o povão quer ver de perto os ídolos. Se for só live o sujeito prefere ficar pendurado no youtube, tem coisa em definição muito melhor. Do artista preferido e na hora que quiser. Live fica travando, tem delay, a fala começa e a boca mexe uma semana depois. Não dá, não dá.



- Mas na live a gente coloca o candidato junto com o artista. E é ao vivo, né? É diferente. Entre não ter nada e ter live, é melhor ter live.



- E santinho, como é que vamos fazer sem aquelas montanhas de entupir bueiro?



- Tá mais pra janela pop-up dessa vez, velho. E-mail marketing, sei lá pra que lado correr, juro mesmo...



- Nossa, que tosco. Que primitivo. O cara lá, vendo o que gosta na internet, e estoura uma pop-up na cara dele, sem mais aquela. Vote fulano. Isso é invasivo, em vez de alavancar a candidatura acaba criando rejeição. Fora que tem legislação eleitoral, não pode sair fazendo o que der na telha.



- Olha, outra coisa. Em vez de ficar gastando em sites locais, grupos de facebook da cidade e coisas assim, a gente pode torrar tudo com um dia inteiro na home de um UOL da vida, um G1, sei lá... tá certo que é caro, mas já pensou o prestígio? Aquele buxixo no dia seguinte: "viu o candidato ontem? Tava lá no G1, da Globo".



- Tudo bem, mas e a dispersão de verba? Home de portal gigante é só pra peso pesado, fio. Vai ter gente do Brasil todo vendo um candidato local, que ninguém conhece, e que só pode receber voto aqui. Precisa ser muito burro pra fazer isso.



- Bom, carro de som continua valendo. Mesmo com a população dentro de casa, o carro passa anunciando e todo mundo escuta. Avisa o comitê pra manter a verba do carro de som.



- Só complementando, gente. Tem um pessoal, de primeiro time da MPB, que topa vender uma live genérica. Eles têm um showzinho padrão, já pronto, onde só mudam o nome e o número do candidato, no fundo do vídeo. Como se o figurão estivesse apoiando, tipo um cabo eleitoral. Só que o cara não fala nada, segue cantando e boa. É uma forma de escapar da live tradicional, pagando bem menos. Mas o impacto não é lá essas coisas...



- Tem também disparo em massa...



- TSE proibiu, já a partir desta eleição.



- Eu conheço um camarada que faz sem deixar rastro. E faz no amor à causa, dá pra ele um pão com mortadela e tá tudo certo.



- Pão com mortadela... tem delivery disso aí?











Esta é uma obra de ficção.

© Direitos Reservados

Foto: https://midiacode.com/santinho-digital-eleicoes.html





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