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sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

BIANCA



Imagem: wikimedia commons




I
Bianca, a mais do que muito séria, fizera filho no banco da frente do Dodge emprestado, as costelas raspando no volante, de longe se via o carro chacoalhando. Fosse de fato séria a fama de séria, ela não chegaria a tanto, não a ponto de esfregar-se em pelo, unhas e secreções a céu aberto e justo com aquele um, o primeiro que se achegou no começo da quaresma.


II
Nunca a tão fêmea Bianca pareceu tão pálida e tão perdida, quando chamou num canto a mãe para uma dura conversa. E lhe falou do filho vindo, ia assumir o mau passo. Era uma quinta esquisita, onde se via uma lua de estranhíssimas crateras.


III
A doce e insensata Bianca, ainda que poucos soubessem, era valise sem dono. De tão distraída que era, nem se lembrava com quantos tinha dormido e acordado sem que adivinhasse o nome e sem que soubesse que aquilo não era coisa que se fizesse. E foi assim que o filho, de pai com ficha na polícia e feito às pressas num Dodge, cresceu um moço perverso, maldizendo o berço infame e os tropeços de Bianca, sua mãe, a bem nascida.


IV
Bianca, a mais linda ainda que mais velha, passou a trazer na pele um bocado das crateras da lua de outros tempos. Enclausurou-se e deixou que a vida lhe vincasse num convento – que acabou sendo invadido por um moço de capuz, condenado a 30 anos pelo estupro de uma freira.



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Marcelo Pirajá Sguassábia é redator publicitário e colunista em diversas publicações impressas e eletrônicas.
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