BIANCA
Imagem: wikimedia commons
I
Bianca,
a mais do que muito séria, fizera filho no banco da frente do Dodge emprestado,
as costelas raspando no volante, de longe se via o carro chacoalhando. Fosse de
fato séria a fama de séria, ela não chegaria a tanto, não a ponto de esfregar-se
em pelo, unhas e secreções a céu aberto e justo com aquele um, o primeiro que
se achegou no começo da quaresma.
II
Nunca
a tão fêmea Bianca pareceu tão pálida e tão perdida, quando chamou num canto a
mãe para uma dura conversa. E lhe falou do filho vindo, ia assumir o mau passo.
Era uma quinta esquisita, onde se via uma lua de estranhíssimas crateras.
III
A
doce e insensata Bianca, ainda que poucos soubessem, era valise sem dono. De
tão distraída que era, nem se lembrava com quantos tinha dormido e acordado sem
que adivinhasse o nome e sem que soubesse que aquilo não era coisa que se
fizesse. E foi assim que o filho, de pai com ficha na polícia e feito às
pressas num Dodge, cresceu um moço perverso, maldizendo o berço infame e os
tropeços de Bianca, sua mãe, a bem nascida.
IV
Bianca,
a mais linda ainda que mais velha, passou a trazer na pele um bocado das
crateras da lua de outros tempos. Enclausurou-se e deixou que a vida lhe
vincasse num convento – que acabou sendo invadido por um moço de capuz,
condenado a 30 anos pelo estupro de uma freira.
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Marcelo Pirajá Sguassábia é
redator publicitário e colunista em diversas publicações impressas e
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