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domingo, 13 de dezembro de 2020

REVIRANDO PAPÉIS, BANHAS E TRANQUEIRAS

 





O Papel, de perfil, juro mesmo: era invisível. Definitivamente, o menino não era chamado pra formar barreira em cobrança de falta.



A poucas casas do Papel, do lado direito de quem subia a Rua Prudente de Moraes, morava o Meio. Ou melhor, o Meio Quilo, antes que a molecada abreviasse o apelido. Como dá pra deduzir, o Meio poderia ter tudo, menos obesidade mórbida.



No extremo oposto do bullying mirim, tínhamos o Banha e o Quilão, sendo que este último chamava-se Aquiles, o que dava ao apelido ainda mais propriedade. Para contextualizar os tipos físicos sem ofender, digamos que ambos pagariam por dois ou mais assentos em um voo da classe econômica. O Banha era famoso pelas redondezas (sem trocadilho), em razão de sua imensa coleção de catecismos do Carlos Zéfiro, que circulavam por empréstimo e eram disputados a tapa naqueles idos de 74, 75.



Não muito longe dali morava o Zé Muié, menino já com seus quatorze anos e cuja munheca era um pouco menos rígida que o da maioria dos machinhos da turma.



Eu mesmo já fui o Pantera, por obra e graça de uma camiseta com a figura da Pantera cor-de-rosa. Meu irmão, dois anos mais novo, virou o Panterinha pois tinha uma camiseta igual. Isso alguns anos antes de virar Lagartixa, sabe Deus por quê.



Beirando o escatológico, impossível não lembrar (sem muita saudade, evidentemente) do bom e velho Ranho. Não pela pessoa em si, mas certamente pelo que lhe escorria pelo nariz 24 horas por dia.



Finalizo com o Tranqueira, que por inspiração ou não do apelido acabou enveredando pelo mundo do crime. Que suas condenações sejam leves, meu caro. Nada me tira da cabeça que, no fundo, no fundo, você parecia ser boa gente.











Esta é uma obra de ficção.

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