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sábado, 20 de dezembro de 2008

BOM PRINCÍPIO


Sou o seu leiturista de água. Você não me vê nunca eu nem bato na porta nem nada, mas eu leio direitinho o seu relójo uma vez por mês e sou amigão dos cachorro, trato tudo eles que nem gente. A caixinha de natal é o momento cristão e bem-vinda de coração e alem do mais ajuda na leitura certa o resto do ano. Data da próxima leitura e entrega do ano bom: dezessete do corrente, tenho o crachá pessa que eu mostro. Agradecido Zezão em ritimo de gingobel

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Não se confunda com outros que fazem passar-se por nós, os seus lixeiros de todos os dias inclusive feriado e finado. Por isso pedimos e meressemos o bom princípio. Somos os lejítimos Janelson, Totonho, Rudisson e Rixacleiderman (o popular Rixa). Se outros baterem, faça que não escuta e espere nós passar (lembramos que passaremos dia 23 de manhã como costume).

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Desejamos um feliz natal
E um ano novo muito agradável
São estes os sinceros votos
dos seus coletores de lixo reciclável

Não se esqueça do nosso bom princípio. Faremos a coleta amanhã.

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O senhor ja parou pra pensar, bem como sua(s) dignissima(s) família(s), como seria sua vida sem ver as oferta do supermercado e do varejão, pois é muito sem graça que seria sem os folheto que eu deixo na caixa de correspondença. Fico feliz com o presente vosso pode ser moeda.

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A boa notícia pra mim vai ser receber uma caixinha bem gorda. Conto com você do mesmo jeito que você conta comigo pra receber o seu jornal de todos dia.
Ari, o entregador

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Fui eu que cubri as féria do Ari, no mês 6 do corrente. Espero ganhar pelo menos o valor de um doze avo do tanto que você vai dar pra ele. Esse é o desejo do Jonas, o entregador que vem no lugar do Ari nas féria e tamem quando ele bebe muito e não concegue levantar cedo.

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Sou o dono da gráfica rápida que fez os cartões. Espero que o ano que se inicia comece magnífico e termine espetacular e aproveitamos o ensejo para divulgar que o milheiro de cartão de visita está em promoção especial de 49,90 obrigado.

© Direitos Reservados

sábado, 13 de dezembro de 2008

"FELIZES PARA SEMPRE" UMA OVA!


O sujeito dá vida à gente, cria aquela história maravilhosa, diz que todos viveram felizes para sempre, põe um ponto final e se arranca. Nunca mais volta para ver o que aconteceu depois às suas indefesas criaturas, no mundo do faz-de-conta. Ora, quem põe filho no mundo tem responsabilidades a honrar. Como é que pode um autor se comprometer com a posteridade e colocar sua credibilidade em jogo, fadando seus personagens a um destino cor-de-rosa sem dar a eles meios para isso? Felizes para sempre, essa é boa...

Vejamos o drama do Prático, o porquinho precavido que construiu a casa de tijolos. Como o conto de fadas tinha que terminar logo, o suíno se viu forçado a correr com a obra e uma semana depois a casinha tinha infiltração, três grandes rachaduras que iam do chão ao teto e um fiscal da prefeitura todo dia batendo na porta, atormentando o proprietário por causa do Habite-se. Tão logo tomou conhecimento do infortúnio, o lobo voltou à casa e nem precisou soprar para que viesse abaixo. Em dois minutos já estava com os três leitões debaixo do braço. Pôs Cícero para engordar no chiqueiro, Heitor foi alocado nos afazeres domésticos da casa avarandada do malvado e Prático foi obrigado a travestir-se de veado e ganhar a vida com ofícios pouco familiares, entregando ao lobo todo o michê do dia. O curioso é que perante a opinião publica o lobo ainda posa de benfeitor, por ter tirado os porquinhos da indigência e dado a eles um abrigo digno. Dizem inclusive que fundou uma ONG, chamada “Lobo Bom”, que se dedica a difundir pelos reinos mais distantes os ideais da filantropia e da solidariedade.

Mas é preciso admitir que sorte pior teve a Cinderela. Antes que a tinta do original da história secasse sobre o pergaminho, começou o calvário da heroína. Horas após o suntuoso casório, quando o príncipe foi dar um cata na moça pra fazer neném, o salto do sapatinho de cristal esquerdo espatifou-se a caminho da cama, depois de patinar num resto de brigadeiro jogado ao chão por um convidado mais porco que Heitor, Prático e Cícero juntos. Além do cristal do sapato, quebrou-se também o fêmur da delicada Cinderela.

A forçada quarentena da moça, devido à cirurgia para colocação de 16 pinos na perna, obrigou o fogoso príncipe a aplacar os hormônios junto a um sem número de donzelas do reino. Sem sex-appeal aos olhos do marido, Cinderela passou a ajudar as faxineiras reais na varrição e no enceramento do salão de baile. Hoje faz doces para fora, com a abóbora que sobrou da carruagem. Tenta com seu advogado tornar sem efeito a autuação da vigilância sanitária, que após análise bacteriológica julgou a referida abóbora imprópria para consumo. Enquanto aguarda decisão judicial, diversifica sua produção com outras qualidades de doces. Só não aceita encomendas para brigadeiros, por motivos óbvios.

Estes são apenas dois exemplos, dentre muitos que poderia citar, da orfandade a que nós, personagens, estamos submetidos. Abrace, leitor amigo, a nossa causa. Não caia no conto de fadas!

Assinado,

O Patinho Feio, que voltou a ser feio após 14 gloriosos dias com jeitão de cisne.

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sábado, 6 de dezembro de 2008

O MELHOR DA FESTA


É esperar por ela. Assim o velho ditado, assim Priscila deitada. Olha pela janela grande do quarto e vê um cinza chumbo empurrando no céu o carneiro de nuvens. Não demora e a chuva vai regar as bostas das vacas lá no morro, que gratas pelo frescor retribuirão com cogumelos a quem quiser colher, chapéus de sol que dariam cores e sons insuspeitos à festa de logo mais. Isso se Priscila fosse de se alucinar. Qualquer uma menos ela, aluna de internato, sem chance, nem vinho de missa conhecia. A uma mulher dessas bastaria uma taça de espumante leve para destravar um vagão de cismas e magoas. No caso dela a lucidez já era, a seco, a perda do juízo e o delírio extremo. Estava há meses a 220, trêmula. Mas a festa daria jeito nisso. A festa prometia e ela acreditava.

Busca Priscila a si mesma na cama. Não acha. Já tentou o Google? O que o Google não acha, não existe. Se o Google não achou Deus, Deus inexiste. Google talvez seja Deus, sendo Deus uma busca como muitos dizem. Se julga Priscila um mosaico de desenho incerto, definido a esmo, sem traçado prévio. Ao resto do mundo o merecido estrago, todas as maldições juntas do Antigo Testamento. Que a ira divina varresse tudo, poupando apenas deleites pequenos mas insubstituíveis, como tentar adivinhar o que teria de almoço ou espreguiçar em fronhas frescas pra espantar o mormaço.

Cadê os headphones? Ouvir música até perder-se em meditação profunda, talvez aquele movimento mais lento da Pastoral, iria bem hoje como nunca enquanto a hora não chega.

O que passou não volta por nada e será sempre muito melhor do que o que é. Sua mecha de cabelo adolescente, guardado no porta-jóias, será infinitamente mais sedosa e interessante que esse grisalho que chega dizendo que veio de vez, para o resto da vida. Mas deixa ele vir, nunca será um susto tão grande quanto o daquele dia em que teu pai, Priscila, te pegou fumando no quintal, lembra? Fumando pela curiosidade, não pelo vício ou por achar charmoso. Um cigarro é um corpo estranho no canto da tua boca sem malícia.

Ela ouve a água passar pelo latão da calha, misturada com a música do Roberto Carlos tocando no vizinho. Ele também vai à festa. Todos vão à festa. No quarto o cheiro de pastilha de eucalipto insiste. Gripe mal curada, quer estar inteira para logo mais.

O que sente agora, partindo do estômago até a lua mais próxima, é como um cordão de prata e néon azul, que Ludmila chamaria de perispírito. Agora é o exato instante em que o mormaço é vencido pela aragem do morro, que sem querer acabou trazendo o cardápio do almoço, agora não mais surpresa: omelete acebolado. Mas comerá só um pouco. À noite tem a festa.

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