NO CENTER DO SHOPPING
O velho continua batendo o pé dizendo que não sai da casa de jeito nenhum, mesmo que tenha que desviar da fila do Mc Donald’s pra tirar leite das vacas.
Tentei argumentar dizendo que ele não iria aguentar a muvuca, o trânsito de carros pra cima e pra baixo, o barulho... O pai me respondeu aos berros, falando que o bisa, o vô, ele, nós e os nossos filhos nascemos todos naquela casa - e que ele, pelo menos, só saía de lá pro campo santo. Bateu a porta e se trancou no escritório, onde nos últimos tempos passa horas lustrando a cartucheira.
E o pior é que não tem jeito. Dentro da fazenda, a topografia ideal pra construir o shopping é bem na área onde está a casa. Além disso, mesmo se houvesse outro ponto pra fazer a obra, não daria visibilidade pra quem passa na estrada. O restante das terras seria pra construir estacionamento, depósitos, espaço para eventos, tratamento de esgoto, essas coisas.
Só que não dá pra imaginar o pai morando lá e a cidade inteira passeando e fazendo compra em torno dele. Como é que ia ficar a privacidade do velho? A gente ia ter que tirar ele da casa de qualquer forma. Uma alternativa é deixar a coisa acontecer e esperar ele mesmo mudar de ideia, quando o shopping começar a funcionar. Provavelmente o povo lá da empreiteira trabalha com a possibilidade de vencer o velho pelo cansaço, depois que o monstrengo abrir as portas.
Agora, a questão financeira: se por acaso a gente ainda conseguir convencer o pai a sair e deixar os caras derrubarem a casa, eles pagam 150 reais por metro quadrado da fazenda. Multiipliquem isso por cinquenta e dois alqueires, sendo que cada alqueire tem